terça-feira, 6 de maio de 2014

A nossa sociedade... ✿

'A nossa sociedade parece muito tolerante porque muitas das coisas que eram proibidas há cem anos são atualmente consideradas absolutamente normais. Contudo, se pensarmos melhor, também há coisas que há cem anos eram consideradas normais e que estão atualmente proibidas. Tão completamente proibidas que nos parece normal que assim seja, tão normal como parecia ser aos nossos avós um sistema de tabus e de proibições. Muitos dos antigos tabus referiam-se ao sexo; muitos dos atuais referem-se à relação mãe-filho, para desgraça das crianças e das suas mães. Por exemplo, a palavra vício usa-se agora de uma forma totalmente diferente da que era usada pelos nossos avós. Quase tudo o que então era considerado vício deixou agora de o ser. Beber, fumar ou jogar passaram a ser consideradas doenças (alcoolismo, tabagismo, ludopatia), com o que o pecador passou a ser considerado vítima inocente. A masturbação (o vício solitário que tanto preocupava os médicos e educadores) é considerada normal. A homossexualidade é simplesmente um estilo de vida. Falar de vício em qualquer desses casos é atualmente considerado um grave insulto. Hoje em dia, apenas se chama vício a algumas atividades inocentes das crianças: Tem o vício de roer as unhas. Chora por hábito (vício). Se lhe pegas ao colo vai viciar-se. O que acontece é que está viciado no peito e, por isso, não come a papa.  Se ainda tem dúvidas sobre quais são os verdadeiros tabus da nossa sociedade, imagine que vai ao seu médico de família e lhe conta uma das histórias seguintes:  
1) Tenho um filho de três anos e gostaria que me fizesse o teste do HIV, porque este verão tive relações sexuais com vários desconhecidos. 
2) Tenho um filho de três anos e fumo um maço de cigarros por dia.
 3) Tenho um filho de três anos; estou a amamentá-lo e ele dorme na nossa cama.  
Em qual dos três casos crê que o médico lhe passaria um sermão? No primeiro caso, diria 'está certo' e pediria a análise do HIV sem pestanejar, no máximo recordar -lhe-ia, educadamente, da necessidade de uso de preservativo, como no segundo caso lhe explicaria que o tabaco é prejudicial à saúde (se o médico também fumar, não lhe dirá absolutamente nada). Ninguém a repreenderá: Mas que descaramento! Como se atreve? Uma mulher casada, uma mãe de família! E no terceiro caso? Conheço uma história real. Quando a psicóloga do jardim de infância tomou conhecimento de que Maribel estava a amamentar o filho de dezesseis meses, chamou-a à escola para lhe explicar que, se ela não o desmamasse imediatamente, o filho seria homossexual (não sabemos se devemos ficar mais surpreendidos com o preconceito em relação à amamentação, se à homossexualidade). Como Maribel persistiu na sua perigosa atitude, a psicóloga foi até sua casa para falar diretamente com o marido, a fim de adverti-lo do mal que a mulher estava a fazer ao filho de ambos. A nossa sociedade, tão compreensiva noutros aspectos, é-o muito pouco em relação às crianças e às mães. Estes tabus modernos poderiam ser classificados em três grandes grupos:  
- Relacionados com o choro: é proibido dar atenção a crianças que choram, pegar-lhes ao colo, dar-lhes aquilo que querem. - Relacionados com o sono: é proibido adormecer as crianças ao colo ou a mamar, cantar ou embalá-las para que adormeçam e dormir com elas. - Relacionados com a amamentação materna: é proibido amamentar a qualquer momento, em qualquer lugar; ou fazê-lo a uma criança demasiado crescida. Quase todos eles têm uma coisa em comum: proíbem o contacto físico entre mãe e filho. Por outro lado, gozam de grande estima todas as atividades que tendem a diminuir o referido contato físico e aumentar a distância entre mãe e filho:  
- Deixá-lo sozinho no seu quarto. 
- Transportá-lo num carrinho ou num desses incômodos moisés de plástico. 
- Colocá-lo num jardim de infância o mais cedo possível ou deixá-lo com uma avó ou, de preferência, com uma ama (as avós tornam os netos mal-educados!). 
- Inscrevê-lo em colônias e acampamentos cedo e durante o maior período de tempo possível. 
- Ter espaços de intimidade para os pais, sair sem as crianças, fazer vida de casal .  
Ainda que algumas pessoas tentem justificar estas recomendações dizendo que permitem que a mãe descanse , a verdade é que nunca proíbem nada de cansativo. Ninguém lhe diz Não limpe tanto, que ganha o mau hábito de ter a casa limpa , ou Quando for para o exército, terá de ir atrás para lhe lavar a roupa . Na verdade, o proibido parece ser a parte mais agradável da maternidade: adormecê-lo ao colo, cantar-lhe, desfrutar da sua companhia. Talvez seja por isso que criar os filhos se afigure tão difícil para algumas mães. Há menos trabalho que antigamente (água corrente, máquina de lavar, fraldas descartáveis), mas também há menos compensações. Numa situação normal, quando a mãe desfruta da liberdade de cuidar do filho como acha conveniente, o bebê chora pouco e, quando chora, a mãe sente pena e compaixão: ( Mas quando a proibiram de lhe pegar ao colo e dormir com ele, amamentá-lo ou consolá-lo, a criança chora mais e a mãe vive esse choro com impotência e, em longo prazo, com raiva e hostilidade ( Todos estes tabus e preconceitos fazem as crianças chorar e também não fazem os pais felizes. A quem satisfazem então? Talvez a alguns pediatras, psicólogos, educadores e vizinhos que os defendem? Eles não têm o direito de lhe dar ordens, de lhe dizer como deve viver a sua vida e tratar o seu filho. Demasiadas famílias sacrificaram a sua própria felicidade e a dos seus filhos no altar de preconceitos sem fundamento. Com este livro, queremos desmentir mitos, quebrar tabus e dar a cada mãe a liberdade de desfrutar da maternidade da forma que desejar.'
Author: Carlos Gonzalez

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